Ontem vimos um documentário sobre os motivos do lançamento das bombas de Hiroshima e Nagasaki. Um documentário filmado em 1995 pela BBC. Entre americanos sem noção que "se arrependem de não ter mandado mais bombas" e outros que odiavam os japoneses porque estes "tinham prazer em matar americanos e, quando [os americanos] aprenderam isso, consiguiram também matar milhares", muitas opiniões de pessoas que não foram devidamente apresentadas ao espectador e deram seus depoimentos. De ambos os lados, e também do lado soviético. Das razões apresentadas para o lançamento das bombas, destaco: a bomba foi produzida, logo, deveria ser usada; a URSS estava pronta para entrar na guerra do Pacífico; havia medo de que os EUA perdessem muita gente (já havia ocorrido isso em Okinawa) ao tentar entrar no Japão.
Os absurdos são gritantes. Não consegui precisar se os argumentos do documentário eram ironias ou imbecilidades. Houve um reforço da noção esdrúxula de que como os japoneses pensavam que o seu imperador era um deus, haveria luta encarniçada até a morte por parte de civis, como se o mesmo não ocorresse se a invasão fosse ao contrário, com os americanos defendendo a "democracia" e a "liberdade" com a mesma irracionalidade. Citou, inclusive, que a população estava sendo treinada para utilizar bambus afiados para matar os americanos.
As imprudências de todas as partes foram muitas. Seja dos japoneses que, mesmo perdendo a guerra, não quiseram se render por não haver garantias que o imperador seria mantido no governo. Dos russos que, mesmo tendo sido solicitados pelos japoneses para ajudarem numa negociação de paz, se omitiram em Potsdam, atacando logo após Hiroshima as bases manchús sob possessão nipoônica. E dos americanos que não acabaram a guerra em maio porque a bomba não estava pronta e eles queriam usá-la (única justificativa que resta depois de constatar que os EUA permitiram que Hiroito permanecesse no governo - que era o entrave fundamental para a rendição japonesa dois meses antes da queda das bombas).
A tese final do documentário é cruel, mas altamente provável: a bomba foi lançada contra a União Soviética, mas fora de seu território, como um aviso - não hesitaremos em atacar com "coisas grandes".
Tudo isso me deixou profundamente deprimido. Não vejo solução. Vivemos sempre sobre o fio da navalha e não nos damos conta disso.
VIDA, TRISTEZA, RISCOS E SEGUNDA GUERRA MUNDIAL