2006-09-28

A parte mais difícil de se estudar a História dita contemporânea é que tu ficas completamente indefeso. Tu não tens o escudo da distância como anteparo aos fatos que aparecem nos livros. É o que sinto toda a quarta feira, quando tenho aula com o Henrique Padrós, professor uruguaio da UFRGS.

Ontem vimos um documentário sobre os motivos do lançamento das bombas de Hiroshima e Nagasaki. Um documentário filmado em 1995 pela BBC. Entre americanos sem noção que "se arrependem de não ter mandado mais bombas" e outros que odiavam os japoneses porque estes "tinham prazer em matar americanos e, quando [os americanos] aprenderam isso, consiguiram também matar milhares", muitas opiniões de pessoas que não foram devidamente apresentadas ao espectador e deram seus depoimentos. De ambos os lados, e também do lado soviético. Das razões apresentadas para o lançamento das bombas, destaco: a bomba foi produzida, logo, deveria ser usada; a URSS estava pronta para entrar na guerra do Pacífico; havia medo de que os EUA perdessem muita gente (já havia ocorrido isso em Okinawa) ao tentar entrar no Japão.

Os absurdos são gritantes. Não consegui precisar se os argumentos do documentário eram ironias ou imbecilidades. Houve um reforço da noção esdrúxula de que como os japoneses pensavam que o seu imperador era um deus, haveria luta encarniçada até a morte por parte de civis, como se o mesmo não ocorresse se a invasão fosse ao contrário, com os americanos defendendo a "democracia" e a "liberdade" com a mesma irracionalidade. Citou, inclusive, que a população estava sendo treinada para utilizar bambus afiados para matar os americanos.

As imprudências de todas as partes foram muitas. Seja dos japoneses que, mesmo perdendo a guerra, não quiseram se render por não haver garantias que o imperador seria mantido no governo. Dos russos que, mesmo tendo sido solicitados pelos japoneses para ajudarem numa negociação de paz, se omitiram em Potsdam, atacando logo após Hiroshima as bases manchús sob possessão nipoônica. E dos americanos que não acabaram a guerra em maio porque a bomba não estava pronta e eles queriam usá-la (única justificativa que resta depois de constatar que os EUA permitiram que Hiroito permanecesse no governo - que era o entrave fundamental para a rendição japonesa dois meses antes da queda das bombas).

A tese final do documentário é cruel, mas altamente provável: a bomba foi lançada contra a União Soviética, mas fora de seu território, como um aviso - não hesitaremos em atacar com "coisas grandes".

Tudo isso me deixou profundamente deprimido. Não vejo solução. Vivemos sempre sobre o fio da navalha e não nos damos conta disso.

VIDA, TRISTEZA, RISCOS E SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

2006-09-26

Tempos difíceis, onde nem mesmo os demônios se reconhecem e jogam a identidade de uns sobre os outros. O pelego é muito curto, nem dá para esconder tantos lupinos. E, pra finalizar, as vozes do demo estão ecoando até pelos fios (ou antenas) telefônicos, conclamando o povo para a sua causa.

E o mais interessante de tudo é que isso não é o Apocalipse da bíblia: são as eleições gerais do Brasil em 2006.

FIM DOS TEMPOS
É por isso que eu sou fã da Amanda. Vai ser boa assim lá em Ipatinga.

TALENTO
É uma coisa muito séria. O Grêmio vai vender o seu melhor jogador para o futebol estrangeiro. Isso não é novidade. Vai render 8 milhões de euros, o que faz com que realmente valha cada vez menos a pena de formar jogadores na europa. O que todo o mundo sabe. O empresário do jogador - nesse caso, seu pai - vai ficar com 20% do dinheiro da negociação, o que todo o mundo sabe, já que foi condição para a renovação do contrato dele no ano passado. Isso são 1,6 milhões de euros.

O que é muito chocante é que eu nunca vou receber esta quantia trabalhando a minha vida inteira. Não desmereço as qualidades do jogador, do qual sou fã. Mas tenho que admitir que o futebol é a maior irrealidade da terra. Ele tem dezenove anos e já pode se aposentar. E eu aqui, estudando.

IRREALIDADES

2006-09-25

O Rio Grande não foi povoado por açorianos, como dizem. O Rio Grande recebeu 60 casaes açorianos, que se localizaram em Porto Alegre (Archivo dos Açores)

O typo do rio-grandense é do alemtejano: alto, màgro, descarnado, da côr do syrio.

A construcção da casa antiga é do Alemtejo - com muita frente e pouco fundo. O cachorro antigo era o cachorro do Alemtejo. O cavallo é do Alemtejo, o cavallo arabe cruzado com o nubio. O gado vaccum é do Alemtejo.


Trecho do texto de Joaquim Gomes de Campos Júnior, também apresentado no primeiro congresso de história nacional do IHGB, em 1915. Embora o texto todo seja assim, sem justificativas mais decentes do que a "observação empírica", dá o que pensar. Ia postar isso dia 20/09 (aniversário da Revolução), mas esqueci. É uma nova maneira de encarar os "povoadores do rio grande".

MAIS HISTÓRIA
Bom, o Luis Fernando Veríssimo faz 70 anos dia 26. Gosto muito dele. Não gosto muito do que fazem para ele - essa coisa de mega escritor, sábio de uma geração. Acho que ele é um ótimo escritor que conseguiu o que poucos conseguem: saiu da sombra do pai e se tornou famoso sem mudar de estilo, sem querer agradar aos outros independentemente da sua arte. Na minha opinião, escreve como ninguém. São quarenta anos de carreira, bem vividos, de um ótimo crítico social que foi formulando e reformulando a vida conforme passou o tempo. Embora, ele mesmo considere que não consegue "pensar em maior imprevidência e falta de lucidez do que fazer 70 anos", parabéns a este "sem netos".

MOMENTO PUXA-SACO
Preso em casa por greve do alarme do carro. Vê se pode.

2006-09-21

Já que inspirado mesmo só o Grêmio, vou de música do dia (faz tempo que não tem isso por aqui...).

Perfect Day
Lou Reed

Just a perfect day
Drink sangria in the park
And then later, when it gets dark, we'll go home
Just a perfect day
Feed animals in the zoo
Then later a movie too, and then home

Oh it's such a perfect day
I'm glad I spent it with you
Oh such a perfect day
You just keep me hanging on
You just keep me hanging on

Just a perfect day
Problems all left alone
Weekenders on our own
It's such fun

Just a perfect day
You make me forget myself
I thought I was someone else
Someone good

Oh it's such a perfect day
I'm glad I spent it with you
Oh such a perfect day
You just keep me hanging on
You just keep me hanging on

You're going to reap just what you sow
You're going to reap just what you sow
You're going to reap just what you sow
You're going to reap just what you sow

MÚSICA DO DIA

2006-09-19

"Diversos instrumentos africanos, as tribus importadas no Brasil reproduziram, a saber: o tambor, de pelle de boi semelhante ao lenho e das mesmas dimensões da colmeia, tendo em uma das extremidades um pedaço de couro crú esticado e preso á madeira, no qual batem com as mãos espalmadas: a piúta, que é um cylindro egual a um barril de banha, vasio, destampado, e uma de cujas extremidades colocam um couro de cotia, veado ou beserro.

Ao centro do couro, pelo lado interno do barril, adaptam um pedaço de pau roliço ligado ao couro interna e externamente de forma que o tocador correndo a mão untada de sebo, no pau, de baixo para cima, tira um som identico ao ronco do leitão quando corre assustadiço
"

Pedaço de um texto de Affonso Claudio, em 1915, sobre as tribos negras e a sua posição biologicamente inferior. Mas não é isso que importa agora. Transcrevi isso, ipsis literis, para demonstrar o que eu chamo de descrição. De tão completa, chega a ser exagerada. Alguém aí sabe diferenciar o ronco de um leitão "assustadiço" de um faminto, feliz ou irritado?

DESCRIÇÃO E INDISCRIÇÃO

2006-09-12

Se as pessoas se tratassem como algumas tratam as suas mochilas (sacolas, bolsas, etc) o mundo ia ser bem melhor. Esses dias tive que pedir licença a uma senhora que, em um ônibus lotado, sentava ao lado de sua bolsa de viagem. Quando pedi, ela vez cara de quem não entendeu. Repeti, e ela olhou para mim e para sua mala. Com a minha persistência, ela levantou, deu lugar à mochila e ficou de pé, enquanto eu me abancava na poltrona da janela.

Na aula, sala lotada de universidade pública. Os que vão chegando atrasados tem que se dirigir a saa ao lado para buscar cadeira. De seus lugares observam as mochilas já previamente assentadas faz tempo, longe do chão e dos pés dos colegas, confortavelmente tomando um bom espaço da sala.

Sem dúvida, a bondade impera nesses seres.

CADEIRAS E SACOLAS

2006-09-05

Só estou escrevendo polêmicas aqui. Hoje foi a da neve: afinal, nevou ou não nevou em Porto Alegre? Dizem que esfria mais, e, provavelmente, a "serra" estará cheia nesse final de semana. Sei que estamos em Setembro, mas, vai entender. Provavelmente, este ano, florescerão tulipas na primavera do pampa.

Ah propósito: creio que eu, como futuro historiador, tenho que ter muita atenção na minha formação. Do jeito que a coisa anda, com neve na primavera e verão em julho, sei não se a minha não vai ser a última. Preciso deixar tudo bem documentado para os E.T's poderem contar nossa história para os seus.

Já diria Getúlio Vargas, se estivesse vivo, para demonstrar que estava certo, lá nos anos 30, quando dizia que o Brasil teria seu lugar entre as grandes nações do mundo: "Até nosso natal está trabalhando para ter neve daqui há cinco anos!"

NEVE, FIM DO MUNDO E CORRELATOS