Tá, aguenta, estou numa de criticar hoje.
A HBO resolveu fazer uma mensagem de natal diferente. Eles pegaram uma série de países da América Latina e vão mostrar um projeto de ensino de música erudita às crianças carentes do Brasil, Venezuela, Bolívia, Chile, México, etc. Eles vão executar uma dessas musiquinhas de natal que se cantava na Inglaterra vitoriana. Uma das cenas mais chocantes é uma menina (eu acho), vestida como índia boliviana, tocando oboé nos andes.
Claramente, o que me incomoda são os limites. É importante mostrar para as pessoas que existe uma diversidade de culturas, que tem suas belezas próprias, e que podem ser remontadas conforme o artista quiser. Isto é construir arte. Agora, fundir coisas que não se misturam sem que uma parte delas seja violentada, é muito complicado. Índios bolivianos tocam aquela flauta deles, feita de bambu - que tem um som muito bonito, diga-se de passagem. Quem toca oboé é um indivíduo de casaca, geralmente num palco. Um é "latino", o outro é "europeu".
No fim, parece que o que mais me incomoda é não saber exatamente o que pensar. O primeiro impacto que tive ao ver isso (vi num comercial) foi de horror. Parece que a "colonização" para tornar o latino "civilizado" ainda passa por uma europeização de costumes. Acho que gostar ou não de música erudita é uma decisão de cada um. Mas, ao mesmo tempo, penso: essas pessoinhas que não têm nada, que são o alvo dos projetos mostrados pela HBO, vão conseguir escolher? No momento que o instrumento e a música são as únicas maneiras de, de certa forma, superar as vicissitudes da vida, não serão encarados como um tipo de favor divino?
Por mais caridoso que pareça, não consigo concordar de imediato. Ainda estou digerindo. Mas ainda soa como dominação cultural. E eu acho que os pobres da América Latina precisam muito mais de um Hugo Chaves do que de uma HBO.
DE-SEN-CANTO
A HBO resolveu fazer uma mensagem de natal diferente. Eles pegaram uma série de países da América Latina e vão mostrar um projeto de ensino de música erudita às crianças carentes do Brasil, Venezuela, Bolívia, Chile, México, etc. Eles vão executar uma dessas musiquinhas de natal que se cantava na Inglaterra vitoriana. Uma das cenas mais chocantes é uma menina (eu acho), vestida como índia boliviana, tocando oboé nos andes.
Claramente, o que me incomoda são os limites. É importante mostrar para as pessoas que existe uma diversidade de culturas, que tem suas belezas próprias, e que podem ser remontadas conforme o artista quiser. Isto é construir arte. Agora, fundir coisas que não se misturam sem que uma parte delas seja violentada, é muito complicado. Índios bolivianos tocam aquela flauta deles, feita de bambu - que tem um som muito bonito, diga-se de passagem. Quem toca oboé é um indivíduo de casaca, geralmente num palco. Um é "latino", o outro é "europeu".
No fim, parece que o que mais me incomoda é não saber exatamente o que pensar. O primeiro impacto que tive ao ver isso (vi num comercial) foi de horror. Parece que a "colonização" para tornar o latino "civilizado" ainda passa por uma europeização de costumes. Acho que gostar ou não de música erudita é uma decisão de cada um. Mas, ao mesmo tempo, penso: essas pessoinhas que não têm nada, que são o alvo dos projetos mostrados pela HBO, vão conseguir escolher? No momento que o instrumento e a música são as únicas maneiras de, de certa forma, superar as vicissitudes da vida, não serão encarados como um tipo de favor divino?
Por mais caridoso que pareça, não consigo concordar de imediato. Ainda estou digerindo. Mas ainda soa como dominação cultural. E eu acho que os pobres da América Latina precisam muito mais de um Hugo Chaves do que de uma HBO.
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