2002-12-10

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O Inagaki faz uma explanação muito interessante nesse texto. Fala sobre a compreensão de textos (e da arte) entre os brasileiros. E eu vou cruzar isso com o texto do Daniel sobre argumentações e discussões. Acho que essas duas coisas se entrelaçam naturalmente.

As pessoas lêem. Muita gente que eu conheço faz isso. Pegam livros de muitos autores, consagrados ou não, e devoram. As vezes vinte ou trinta em meio ano. Essas pessoas geralmente se conhecem, e falam a respeito do que leram. Mas não falam sobre o que leram. Contam meio por cima a história do livro, sem discutir a sua mensagem. Sem dar o seu ponto de vista sobre a obra e, inclusive, sem questionar se o autor tem ou não razão em argumentar daquele modo. Assim, lêem, mas não digerem.

Se os autores - os bons autores - soubessem disso, possivelmente se frustrariam. O fato de não discutir Kafka torna seus livros apenas mera literatura passatempo. Se não se pensar em que contexto eles foram escritos, quem ele era, de onde ele veio, perdemos a melhor parte - ou até mesmo, a parte que vale a pena da obra. É como ler Dante, no Inferno da Divina Comédia, sem saber quem são as figuras que ele encontra lá. E tem muita gente que lê se coloca num pedestal: "eu li Dante!". Tá, e daí? O que ele quis dizer?

A partir desse ponto as coisas poderiam ser melhores. Assim a literatura mostra que é arte. A visão de vários aspectos cria mitos como o Edgar Allan Poe, por exemplo. Um autor discutido encontra muitos significados. É como letras de bandas para alguém que funda um fã clube: sempre tem alguma coisa nas entrelinhas.

Só que as pessoas fogem do diálogo. Ou pior: não sabem dialogar. Talvez seja isso que tenha trazido um sentido tão depreciativo para a palavra discussão - que deixou de ser uma exposição de idéias para se tornar sinônimo de briga. As pessoas se agarram nas suas convicções de uma forma tão medrosa que se esquecem que existe um mundo lá fora e qeu seus encéfalos são limitados (se não são, então por que não resolvem todas as questões filosóficas?). Encaram a discussão como uma disputa, onde quem deixar o outro sem argumento primeiro vence. E aí volta a fazer sentido o texto do Pedro sobre palavrões, anteriormente citado: começa a vir a tona a reputação do indivíduo e não as suas idéias.

Em resumo: não entendemos os outros porque estamos fechados dentro das nossas verdades.

COMPREENSÃO DE TEXTOS