2002-09-04

Você conhece. Aqueles indivíduos que adoram encher o saco com aquela pergunta idiota: "O que tu tem?". Eu simplesmente abomino. Não confundir com aquele amigo que te conhece, que lê nos teus olhos quando as coisas não vão bem. Falo daqueles que perguntam isso para ti quando tu apenas está encarando o horizonte, com a cabeça vazia. Ou quando tu quer ficar sozinho, sem se mancar que o motivo da cara de cu é a própria presença da praga. E fazem a mesma coisa com o leiteiro, o padeiro, a irmã deles, a tua irmã, o padre, e o papa até. E, se o cachorro já não tivesse respondido oitenta e cinco vezes com um latido, estariam perguntando até hoje o que eles tinham.

Lembrou de um? Pois então, esse mesmo. Eu sempre apresentei certo asco deles por tomá-los por sanguessugas. Sanguessugas de tormentos alheios. Eles sempre me pareceram como vermes que se atacavam em todas as pessoas que pareciam estar com alguma nuvem negra sobre a existência pelo simples prazer de se dizer confidentes das coitadas. Parecia que ser a válvula de escape dessas almas desgraçadas era alguma maneira de fazê-las sentirem-se útieis. E algo digno de gabação. "A fulana? Pois é, vive chorando as pitangas para mim..." E eu fugi de muita gente assim.

O fato é que hoje eu admito. Eu não entendia essas pessoas. Descobri isso enquanto conversava no bar. Minha melhor amiga tinha vindo conversar comigo, trocar uma idéia. Eu estava me sentindo em frangalhos. Mas eu ouvi ela. Me envolvi nos problemas dela. Sofri com ela. Fiquei perdido com ela. Tentei ser forte. E me esqueci dos meus problemas. Assim, fácil. Zapt.

As pessoas que se interessam demais pelos problemas dos outros são apenas seres covardes que fogem dos seus próprios. E deles sinto apenas pena.

SANGUESSUGAS